África, o país? Ou África, o continente?
Existe um país chamado África?
Qual a capital da África?
Que língua é falada na África?
Qual a moeda africana?
Você notou algo estranho nas perguntas anteriores?
Em primeiro lugar, é importante dizer que não existe nenhum país chamado África.
A África é um continente imenso, diverso, heterogêneo e formado por mais de 50 países, cuja história é marcada por opressão, luta e resistência.
Apesar de diversa e múltipla, não é incomum que diferentes pessoas se refiram à África como um espaço homogêneo, único, integrado.
Por que você acha que isso ocorre?
A cultura e o conhecimento das sociedades europeias exerceram hegemonia sobre diferentes sociedades ao redor do mundo.
Nos contextos coloniais da África, América e Ásia, essa dominação foi violenta e oprimiu as singularidades locais.
Ao dominar e subjugar outros povos, a Europa (e, por extensão, o Ocidente) construiu uma narrativa histórica que se impôs como história oficial, que apresentou as aventuras dos “descobridores de mundos” e a missão civilizatória da Europa para com os povos “selvagens”.
Essa narrativa inseriu no imaginário coletivo, por exemplo, a noção de que todas e quaisquer comunidades que viviam no continente americano antes dos reinos europeus o invadirem eram iguais.
Contrariamente a essa noção, as sociedades indígenas, no que se tornaria o Brasil, eram bastante diversas entre si.
Também deriva dessa hegemonia cultural, econômica e política a noção reducionista que o Ocidente, sobretudo, tem da África.
Foram milhares de anos de apagamento, silenciamento, opressão, escravização e sobreposição da história contada e produzida pelos povos do próprio continente.
Ampliando essa reflexão, você já parou para pensar por que determinados conhecimentos e narrativas chegam a você? Quando lê ou estuda por meio de seus livros didáticos, por exemplo, você se pergunta por que determinado conteúdo é apresentado de uma forma e não de outra?
Quando uma informação chega a você, qual sua postura? Você faz alguma análise crítica do conteúdo ou o assume como verdadeiro e o reproduz?
As narrativas podem ser bastante poderosas e duradouras, especialmente quando elas derivam de agentes que exercem ou detêm algum poder ou relevância.
A narrativa construída em torno dos povos originários da América, por exemplo, tem sido contada – e aceita – há mais de 500 anos.
QUAL A SUA HISTÓRIA?
Nesse contexto, a tentativa de reconstruir narrativas a partir da experiência e descendência dos povos diretamente atingidos pelos processos de colonização e escravização, em uma perspectiva decolonial, é muito recente, tendo surgido da indignação e revolta contra a opressão e o extermínio vivenciado por esses povos, seja na América ou na África.
Quando você precisa se posicionar sobre alguma questão ou tomar alguma decisão, seja ela qual for, que elementos você busca para embasar essa tomada de decisão?
Imagine que você precise escrever um texto sobre os primeiros anos do contato entre povos originários e colonizadores em um espaço delimitado e ocupado por uma etnia específica na América. Qual seria o ponto de partida para o seu trabalho?
Buscaria referências de pesquisa em uma literatura, ainda que acadêmica, majoritariamente feita por pessoas brancas e não indígenas, ou, de outro modo, procuraria entrar em contato com a produção de conhecimento na própria etnia em questão? Por quê?
Galyna Motizova/Shutterstock.comFaçamos outro exercício: imagine que alguém decidisse contar a história da sua vida, apenas com base em boatos e aparências sobre você, sem escutar você mesmo ou pessoas que te conhecem a fundo. Você acharia justo que essa história sobre a sua vida se perpetuasse como verdade? Por quê?
ra2 studio/Shutterstock.comSempre que a história sobre determinado povo, processo ou acontecimento é contada ou chega a nós, é preciso analisá-la com criticidade, bem como considerar o que esse povo ou todos os envolvidos no processo contam de si mesmos.
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